terça-feira, 3 de março de 2009

Musa

Depois, o tudo não era mais tudo, não era mais nada. Era tudo de novo. Por mais adjetivos que se encontrem para definir o que é uma musa, só sabe quem tem. E não pense que só amar é o suficiente para sabê-la. Sempre invejei os poetas que tinham as suas, embora eu não o seja. Musa não se procura, musas aparecem. E ficam. Musa é para sempre, é eterna. Musas causam temporais, quem tem uma está condenado a viver à deriva. Encontrei a minha, e confesso: “Quando o amor era medo, eu achava melhor acordar sozinho”. E o que é que eu queria da minha musa? Que ela furasse o dedo e fizesse um pacto comigo, ora. “ 4 letras é NADA, 4 letras é TUDO, 4 letras é o DEDO que é a língua do mundo. 4 letras, 4 letras. 4 letras eu FICO RICO ou DURO, 4 letras eu picho seu nome no MURO. 4 letras eu DIGO, eu PEÇO, eu FAÇO, 4 letras eu SUBO bem alto e CAIO”.

Minha musa chegou sangrando aberta em pétalas de amor. Uma musa tem algo de belo, de lindo e triste. Tem algo de forte e frágil, de querer e não querer, de fugir e ficar, de eterno e efêmero, de pecado e perdição. Musas são como deuses: quando não se acredita neles, deixam de existir. Meus deuses e minha musa existem. Tanto, que Marte, 60 anos depois, voltou a aproximar-se da Terra só para conhecê-la. Ficou mais vermelho, extasiado, derretendo boa parte de suas geleiras; disse que aquelas águas eram o choro maravilhado diante da beleza do Universo. Perguntei se ele já tinha visto algo igual, ele disse que não, que ela merecia os anéis de Saturno, perfeitos para a mais linda das mulheres, que me daria uma carona para que eu fosse buscá-los. Irei.
Não se assuste, não tenha pena nem inveja de mim: sou lírico, aprendiz de cronista, e, sinceramente, não sei o estrago ou o bem que pode fazer uma musa. Só sei que nada ficou no lugar como era antigamente. Até ontem a vida era um “deserto de saudades”. Uma musa pode saber que é musa? Tanto faz. Não muda nada. Nem que ela mude. Ela é única para um ser único, que é você. E a escolha não foi dela, foi sua mesmo sem ter sido, um dia os mistérios da vida irão lhe explicar. Muitas vidas morrem sem suas musas, outras, renascem com elas. Marisa Monte, Frejat e Carlinho Brown fizeram esta canção para a minha musa, a minha Frida Kalos, a minha Lolita adulta, a minha Beatriz, tenho certeza:

‘Quando madrugar, eu vou estar acordado / Desperto certo de olhos abertos ao seu lado / Eu vou guardar seu sono a noite inteira / Eu vou olhar você, não vou parar de olhar / A noite inteira serei sua sentinela / Vou atravessar a madrugada / Eu vou deixar a luz apagada, só olhando pra você / Olhando pra você, e vendo só você / No escuro e vendo, no escuro e vendo / No escuro e tendo a noite toda pra te ver / Eu vou fechar a cortina / Eu vou abrir a retina devagar / E quando madrugar, eu vou estar acordado / E quando amanhecer, eu vou estar ao seu lado / Desperto, vendo seus olhos fechados / Quando madrugar, eu vou estar acordado / Desperto certo de olhos abertos ao seu lado / Eu vou guardar seu sono a noite inteira”.
Isto posto, eis me aqui. Despido da falsidade, despido de mim mesmo. Minha musa merece ser feliz, é o que desejo. Merece que eu lhe vista com as melhores palavras, aquelas que são embaladas em confeitos de sentimento; para que, se um dia ela provar, devolvam-lhe seu sorriso e olhar de criança. Minha musa é linda, é bela como o primeiro de olhar de timidez dos amantes; minha musa anda em asas de beija-flor, com seus cabelos ao vento, acariciando as nuvens de um coração. Talvez ela jamais saiba, não importa. O que importa é eu saber que passei pela Terra inteiro, agora completado por esse ser. O que importa é saber que ela é Minha. Musa.

5 comentários:

  1. Essa crônica é muito bonita, mas não foi você quem escreveu, fui eu, Gustavo Costa de Oliveira, ainda em 2005. Postei no meu blog "Lamentador lamentando", que já não existe mais. Mandei pra algumas pessoas lerem, elas me servem de prova.

    Que provas tem você de que escreveu isso?

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  2. Meu caro gustavo. Primeiro, dizer que esta crônica é bonita é pouco: é do caralho, para sermos generosos. Mas fico grato pelo elogio. Ademais, camarada, esta crônica foi escrita e postada no tempo em que eu escrevia para o Sanatório da Imprensa, e que fez ferver a cidade de Natal, querendo saber quem era a musa de Norton Ferreira. Mais: a musa destinatária foi a primeira a receber. Mais do mais: fiz uma marcação na crônica, espécie de segredo, que só eu e ela sabemos, como prova de que a crônica realmente foi escrita para ela. Apresente suas "provas" que eu apresento a marcação e mais uma legião de leitores que à época leram quando publiquei a crônica da minha musa. E prepare grana, porque eu posso lhe processar. Aliás, o nome do seu blog é sugestivo: lamentador lamentando. Pois pode continuar lamentando, velho. E, por favor, continue lendo meus escritos. Essa sua acusação é o elogio mais sincero que já recebi.
    Norton Ferreira
    casadasletras@gmail.com

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Oi Ferreira!

    Quanto tempo que não te vejo...

    Estava eu à toa quando resolvi dar uma zapiada pela net e encontrei seu blog. Fiquei tão feliz!

    Estas lindas palavras suaves encatam qualquer pessoa, e me enche de orgulho de ter convivido , ainda q por pouco tempo, com um homem tão sábio e sensível.

    Um beijo no seu coração.

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  5. Minha Lilinha, saudades de você. Só agora vi o seu post. Quem sabe, um dia, a gente não dança a nossa canção?... Bj.

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