quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Penélope

“Separei hoje, começo amanhã”. Com esta bela síntese, num Classificados, Penélope iniciou-se na prostituição, O nome também foi pensado, queria que o nome artístico fosse de quenga, mesmo... puta-puta, segundo ela. “ A putaria é uma segunda natureza da mulher”, assim diz Céline, Louis-Ferdinand Céline, no clássico Viagem ao Fim da Noite. Um livro para sempre. Me chamou a atenção a beleza do título, a concisão, a determinação e toda uma história que estaria por trás dele: “Separei hoje, começo amanha”.

Não foi bem isso que me chamou a atenção, e, sim, toda uma raiva, toda uma ira, toda uma revolta, um “foda-se o mundo” que estava no pilotis de uma existência. Aos cinco, foi “acariciada’ pelo tio; Aos 14, foi estuprada no banheiro, pelo namorado. Afundou no porão da autoestima e rolou de copo em copo, de baseado em baseado. Consegui o primeiro encontro, dizendo que era apenas para entrevistá-la; que ela deveria ter uma história interessante de feia. Concordou, desde que eu pagasse o cachê: 200 reais. Paguei.
A cidade de Santos tem bares interessantes, preferiu um que já conhecia. Sob uma lua que pedia atenção e choramingava desespero, num ambiente que escarrava bêbados por todos os buracos, conversamos. Morena, alta, ainda bonita, cabelos compridos e uma sobrancelha torta, que lhe sobrou de uma tentativa de casamento.

- Não dá mais! Cansei! Se eu chegar a beijar a boca do ralo, estarei melhor. Que venham todos os gatos pretos, todas as sextas-feiras 13. Quero calo, mas calo de sapato novo. Quero dor de verdade. Tchau, Disney! Tchau, faculdade. Tchau, dignidade de barriga vazia. Tchau, calcinha de R$1,99, quero DeMillus, cuequinha Calvin Klein. Eu quero é gozar no final. Vou botar minha sobrancelha no lugar. Homem não presta, o mundo não presta. E o amor?, perguntei. “ O amor, meu bem, o amor é o infinito posto ao alcance dos cachorros.”