terça-feira, 9 de junho de 2009

Aninha, Uma Pernambucana

Na canção As Cores de Abril, Vinícius de Moraes diz assim:
"As cores de abril
Os ares de anil
O mundo se abriu em flor
E pássaros mil
Nas flores de abril
Voando e fazendo amor".
Numa manhã de abril, sob um Sol banhado em ouro , o mundo também se abriu em flor e borboletas; uma revoada de belas borboletas, para ser mais exato. Reinando entre elas, Aninha. Ah, Aninha, se você visse como eu vi você: uma linda borboleta morena entre um rosário de borboletas amarelas. Aninha, a DiAna das borboletas, a mais bela de todas. Aninha é Cássia, Cássia é La Cássia; para mim é Ana, é Aninha. Não sei o porquê, mas desde que a conheci, é assim que lhe chamo, é só assim que sei lhe chamar. Talvez haja aí um certo sentido exclusivista, algo carinhoso, algum sentido de posse, alguma coisa que um dia vou saber. Talvez seja pelo seu jeito de menina, pela sua fala dengosa, pelo seu jeito de Deusa da beleza, pela pessoa bacAna que ela é. Não sei, só sei que os ares também eram de anil, pois naquela manhã o céu abençoava a vida com o seu azul. E sob esse céu azul, reinava a minha rainha, a minha deusa, a minha DiAna das borboletas. Ah, Aninha, se você visse como eu vejo você.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Amor eterno amor

Ao abrir a porta do apartamento, um quarto-e-sala, Fred deparou-se com a mesa, como sempre, muito bem posta. Compondo o almoço, embaixo do prato, um bilhete em forma de coração: “Era o que tinha, desculpe-me se não fiz melhor”. Fred procurou a vizinha do 202: “A senhora viu Bia?” Foi embora hoje de manhã”. Acabava-se assim um amor adolescente. “Será? E aquele bilhete em forma de coração? Será que não era só uma fuga do amor?”, pensou Fred. Estava a dois mil quilômetros de onde viera com Bia. Agora estava só! Caiu em prantos, gritando para dentro do travesseiro: “Eu quero a minha Bia!” .
Bia era linda, bela e triste. Não agüentou as traições e a desatenção de Fred.

Conheceram-se quando ele tinha 15 e ela 16 anos. Um namoro que os pais dela não queriam. Os pais de Fred não tinham dinheiro, era Bia quem bancava tudo: cinema, bailes e boates. Dividiam a Coca-Cola e o cachorro-quente, chuva, sereno e piubas de cigarro, as brigas de casa e a cola no colégio. Acho até que foram eles que inventaram a expressão “entre tapas e beijos”. Encontravam-se pela manhã, à tarde e à noite. Como era boa a vida sem celular e Internet. Explodindo em hormônios,transaram em lugares que nem Deus duvida, pois transaram até na Casa de Dele, na sacristia.

Já perto dos 18 e 19 anos, cada vez mais apaixonados e querendo descobrir o mundo,
juntaram uns trocados e resolveram fugir. Queriam livrar-se dos pais e daquela vidinha do interior. Os dois se bastavam. Antes do embarque, na rodoviária, compraram dois confeitos que vinham com uma aliança, cada. Já dentro do ônibus, fizeram a troca da bijuteria , exibiram o dedo anular para os passageiros e foram até aplaudidos. Durou seis meses.
Fred voltou para a cidadezinha, queria reconquistar sua Bia, que para sua surpresa não estava lá. Ninguém sabia o destino de Bia; segredo que só os pais dela sabiam, foram eles que decidiram afastá-la dali. Fred foi embora do lugar.

Vinte anos depois, “numa tarde de um domingo azul”, o telefone toca: “Alô!” “Quero falar com Fred”. “É ele!” “Tudo bem?” “Tudo. Quem é?” “Bia!” “...” “Fred?” “...” Alô, Fred?” “Oi, Bia!” Estavam a 1.500 quilômetros um do outro, ambos casados, com filhos. Bia falou que queria vê-lo, acertaram o dia que ela viria. “Como será que ela está? Como estará a minha Bia?” Fred tinha receio, pois sabia que fora da cabeça a imagem não se congela no tempo. Arranjou um apartamento para ela ficar. Chegou o dia, foi esperá-la.
Não conseguiam olhar-se nos olhos. Fred lembrou-se da letra de uma música que diz
“nossa linda juventude, página de um livro bom...” Vinte anos depois, o roteiro de um filme inacabado pedia seu final. Foram a um restaurante. Não conseguiam falar, queriam ficar só se olhando. Havia ternura e uma pergunta no ar: por que a vida quis assim? Duas da manhã, Fred foi deixá-la no apartamento. “Não vai subir?” “Não, você é uma mulher casada”. “Eu sempre fui uma mulher casada!”, disse Bia, mostrando-lhe aquela aliança do confeito.

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