domingo, 12 de abril de 2009

Talvez

Comprei um arco-íris novinho em folha. Pintei meu céu com as cores de uma felicidade que tomei emprestada. Roubei flores que não pediram para ser roubadas. As partículas no ar seguravam lágrimas condensadas. Tudo porque acreditei num beija-flor que me disse haver no final do arco-íris um pote de ouro; que se eu tivesse sorte, uma bela fada me deixaria ver seu rosto. Não havia ouro, só um pote vazio. Era só isso o que eu queria; a vida inteira, era só o que eu queria: um pote mágico, vazio de inveja, vazio de soberba, vazio de pecados, vazio de nada. Um pote apenas cheio si, cinza brilhante como prata, onde joguei minha falsa alegria, os amores amados negados, a esperança tardia, o encardido olhar do horizonte morrido. Enterrei-o novamente, com calma, com grãos de areia peneirados entre os dedos. Na cabeça, um filme; no vazio, um coração.

A fada apareceu. Zombou do meu céu, ridicularizou meu arco-íris, matou as flores mortas e quebrou meu pote cheio de vazio de mim. Outra fada apareceu, num outro lugar e tempo, que deixou-me ver seu rosto, que me presenteou com o mais belo sorriso, que vinha de ternura embalando seu olhar, que viva rosa vermelha me deu, sem espinho. Rosa comprada na noite, dos vendedores que perambulam por mesas e ilusões. Mas... cadê o espinho? No meu pote enterrei meu peito, que também quer seu espinho, que fará jorrar meu sangue, vermelho de amor e dor. A rosa exalou você, que é linda em rosa, botão e flor. Uma redoma, em meu coração, lhe conservará para sempre.

Era para ser um poema, mas, agora, algo me pede uma despedida. Que seja. Sinto que tenho de ir, mesmo sem saber para onde, mas tenho de ir; e jamais saberei se você virá. Na verdade, foi tão real que nem sei se você existiu. Não importa. Minha alma precisava desse fantasma, precisa dessa companhia.
Agarro-me a Drummond: “O que é ser feliz? O que eu queria ontem, o que eu quero hoje, ou que eu quero amanhã”? Talvez haja aí uma esperança, um buraco negro; mas é uma esperança, que meu bom fantasma não irá espantá-la.
Não vou dizer adeus, não vou dizer até logo, não tenho o tempo preso em minhas mãos. Tudo é talvez. Talvez eu nem escreva mais neste Sanatório, talvez. Só para você não saber como estou, talvez. Talvez eu escreva uma crônica por dia, só para dizer o que você já sabe, talvez. “Te ver, e não te querer, é improvável, é impossível”. Talvez.

Norton Ferreira
casadasletras@gmail.com

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