quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Lembranças

Um pouco de etiqueta não faz mal a ninguém, menos na hora do sexo. Sexo bom é sexo primitivo, o resto é invenção de Spilberg: mais forma do que conteúdo. Um pouco de etiqueta nem desce nem sobe o preço do espinafre. Uma etiqueta saindo da calcinha ou do biquíni derruba qualquer marinheiro Popye. O que quer dizer uma etiqueta tremulando ao vento? Desleixo? Vulgaridade? Um adeus? Um até nunca? Um “tô nem aí”? Olhe mas não devore? Nem devore nem olhe? A etiqueta rebelde é antetudo: antissensual, antiestética e anti-bom gosto. A etiqueta só serve para indicar o número, dizer quem fez e quais os cuidados que se devem ter com o tecido. Só.

Mas serve também para me lembrar de quem nunca esqueci. Que nunca mais a vi. Para me dizer que ela é linda. De qualquer jeito. Em qualquer lugar. A qualquer hora. Em qualquer dia. A Qualquer minuto. Em qualquer planeta. Quanto mais desarrumada, quanto mais descuidada, quanto mais desgrenhada, quanto mais desligada, quanto mais desetiquetada, quanto mais atrapalhada, mais linda é. Passou o Natal, cartão não recebi. Me contentaria em receber a etiqueta, a etiqueta que eu tanto insistia em botar para dentro. A etiqueta que apenas mostrava um jeito de menina e uma paixão pela liberdade. Só fui livre quando estive preso a você.

Norton Ferreira
casadasletras@gmail.com

Um comentário:

  1. É, tem sempre "aquela" que fica. Aquela cujos pontos perfeitos louvamos com a mesma intensidade dos imperfeitos, pois todos confabulam para uma integridade sem igual.

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