sábado, 14 de março de 2009

Renato Russo

Neste 11 de outubro completam-se onze anos que Renato Russo nos deixou.
Esta pequena crônica é para reforçar minha crença na paz e no amor. Fazer o quê?...
Tem coisa pior que um mundo só de paz e amor? Viver sem um espinho no olho e sem o prazer de pisar num caco de vidro? Mas é só para reforçar uma crença que não existe, na verdade; o mundo é dual. A noite pode cair numa tarde. Ou não, como diria Caetano.
Renato era doidamente lírico, acidamente romântico. Seu olhar era a ponta de sua lança. Que feria quando sangrava verdades. Seu escuro era claro demais.
Dos seus mergulhos, voltava à tona sem arranhões, embora dilacerado. Com a alma implorando justiça e o espírito, um pouco de paz. Ouvindo Renato, hoje, ainda vejo a juventude andando em trevas; nas trevas do efêmero, na burrice do agora, nos valores epidérmicos.
“Só os iluministas vêm ao mundo com a mística dos iluminados. Renato mergulhou nos oceanos da alma, viu o lodo, e trouxe pérolas. No seu inferno moravam anjos.”
Renato decifrou gestos, quando tudo era só intenção. Seu brilho deixou nus o ódio, a inveja, a mentira, a injustiça e a traição; e vestiu de luz a amizade, a justiça, o amor, a bondade, o companheirismo, a fé, a compreensão, a liberdade, o respeito e a paz.
Renato Russo era metalingüístico, retórico, realista sonhador, gostava de parábolas. Mas era simples. E só os simples podem ser simples. Não é fácil enxergar o óbvio.
E, através dele, enxergamos esta bela frase de Oswald de Andrade: “O Brasil é uma república federativa cheia de árvores e gente dizendo adeus”. Veja o que ele diz na música
L’avventura: “O sol é um só, mas quem sabe são duas manhãs?... Em Soul Parfisal, está lá: “Pecado é provocar desejo e depois renunciar”. Mas, na música A Via Láctea, a simplicidade foi desconcertante: “Obrigado por pensar em mim”. Pare um pouco e pense,veja quanta generosidade: “Obrigado por pensar em mim”.
Na verdade, Renato não era iluminista nem tampouco iluminado. Era a luz.”

Norton Ferreira

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